Congresso do Peru destitui Dina Boluarte por “incapacidade moral permanente”; José Jerí toma posse em transição conturbada
O Congresso peruano aprovou por ampla maioria o afastamento da presidente Dina Boluarte sob a acusação de “incapacidade moral permanente”, impulsionado por escândalos de corrupção, abandono de funções e crescente insatisfação popular. O presidente do Legislativo, José Jerí, assumiu interinamente o poder.

Em uma votação histórica realizada na madrugada desta sexta-feira (10), o Congresso do Peru decidiu destituir a presidente Dina Boluarte por “incapacidade moral permanente”, uma figura jurídica prevista na Constituição do país. O resultado foi unânime e superou amplamente o número mínimo de votos necessários.
Com a decisão, o então presidente do Congresso, José Enrique Jerí Oré, assumiu interinamente a presidência da República, conforme estabelecido pela linha sucessória constitucional, já que Boluarte não contava com vice-presidentes em exercício.
Entenda os motivos do afastamento
A destituição de Dina Boluarte foi consequência de uma série de fatores que, somados, levaram ao colapso de sua sustentação política e institucional:
1. Escândalos de corrupção e bens não declarados
A presidente foi alvo de investigações por supostamente manter em sua posse itens de luxo como relógios e joias de alto valor, sem a devida declaração oficial. Havia suspeitas de que esses bens teriam sido recebidos de forma indevida por parte de governadores e empresários que mais tarde se beneficiaram de decisões do Executivo. O caso ganhou grande repercussão pública e ficou conhecido como “Rolexgate”.
2. Ausência do cargo para fins pessoais
Outro ponto que pesou contra Boluarte foi o abandono de funções por vários dias consecutivos no meio de seu mandato, supostamente para realizar procedimentos estéticos. A ausência não teria sido comunicada de forma transparente ao Congresso, o que foi considerado grave, dado o momento de crise que o país enfrentava. A falta de transparência e a priorização de interesses pessoais em detrimento da função pública agravaram sua situação política.
3. Repressão violenta a protestos
Desde sua posse, Boluarte enfrentou uma série de protestos em várias regiões do país. Em muitas dessas manifestações, houve repressão por parte das forças de segurança, com registros de mortes, feridos e denúncias de violações de direitos humanos. Organizações civis e setores da comunidade internacional apontaram o governo como responsável pela escalada da violência.
4. Crise de governabilidade e perda de apoio
O governo Boluarte sofria com uma queda contínua de popularidade e a perda de aliados políticos. Diversas bancadas do Congresso, antes neutras ou aliadas, passaram a apoiar as moções de vacância. Foram apresentadas múltiplas tentativas de afastamento, todas fundamentadas na figura da “incapacidade moral permanente”, até que uma delas finalmente prosperou com apoio maciço dos parlamentares.
Reações e cenário atual
Em pronunciamento após a decisão, Dina Boluarte afirmou que “não pensou em si mesma, mas nos peruanos”, sugerindo que aceitava a decisão como um gesto de responsabilidade. No entanto, sua ausência na votação e o silêncio diante de alguns dos pontos mais críticos da acusação levantaram ainda mais questionamentos.
Já o novo presidente interino, José Jerí, destacou a necessidade de pacificação nacional e convocou os poderes do Estado a colaborarem para garantir a estabilidade institucional. Ele terá como principal missão conduzir o país até as eleições gerais previstas para abril de 2026, além de conter a insatisfação popular e retomar a confiança da população nas instituições.
???? Linha do tempo resumida
Data / Período | Evento relevante |
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Dezembro de 2022 | Boluarte assume após destituição de Pedro Castillo |
Início de 2023 | Onda de protestos e repressão violenta |
Junho a Julho de 2023 | Ausência do cargo para procedimentos estéticos |
2024 | Escândalo “Rolexgate” vem à tona |
2025 | Queda de apoio político e novas moções de vacância |
10 de outubro de 2025 | Congresso aprova destituição; José Jerí assume |
Análise final
A queda de Dina Boluarte representa mais um capítulo na instável história política do Peru nos últimos anos. Com sucessivos presidentes afastados ou investigados, o país segue enfrentando um profundo desafio institucional. A destituição da presidente por “incapacidade moral permanente” levanta debates sobre os limites da ética no exercício do poder e sobre o uso dessa figura constitucional como mecanismo de controle político.
A gestão de José Jerí será observada com atenção, tanto pela sociedade civil quanto pela comunidade internacional. Ele terá que conduzir o país em um momento crítico, marcado pela desconfiança generalizada, crise econômica e apelo popular por justiça, estabilidade e renovação.
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