Ministério Público do Brasil acusa Bolsonaro de liderar tentativa de golpe contra Lula

O procurador-geral da República apresentou uma queixa contra Jair Bolsonaro, acusando-o de ser o líder da tentativa de golpe contra o presidente Lula da Silva.

Fevereiro 20, 2025 - 13:24
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Ministério Público do Brasil acusa Bolsonaro de liderar tentativa de golpe contra Lula

Procurador-geral da República acusa Bolsonaro de liderar tentativa de golpe contra Lula
O ex-presidente de extrema direita, acusado de conspirar para anular sua derrota eleitoral, enfrenta acusações que totalizam 43 anos de prisão
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou na noite de terça-feira Jair Messias Bolsonaro, que foi presidente entre 2019 e 2022, por liderar a tentativa de golpe de Estado para reverter sua derrota nas urnas contra Luiz Inácio Lula da Silva, informou o Ministério Público em nota oficial. Em novembro passado, a polícia solicitou que o ex-presidente de extrema direita fosse acusado. O procurador-geral da República agora alega que Bolsonaro liderou “uma organização criminosa baseada em um projeto autoritário de poder”.

Além do ex-presidente, 33 pessoas foram acusadas, incluindo vários de seus ministros e um ex-chefe da Marinha. Um dos acusados, o militar reformado Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente, está preso por obstrução das investigações. Nunca antes um general quatro estrelas brasileiro foi preso.

O ex-presidente está a um passo de sentar no banco dos réus. O procurador-geral encaminhou sua denúncia ao Supremo Tribunal Federal, que agora deve convocar uma de suas duas casas para decidir se aceita a denúncia e abre um julgamento contra Bolsonaro e os demais acusados. Bolsonaro é acusado dos crimes de supressão violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação para organização criminosa, entre outros crimes, cuja soma totaliza 43 anos de prisão.

O Procurador-Geral da República Gonet descreve sua denúncia de 272 páginas no preâmbulo da seguinte forma: “Aqui denunciamos as ações praticadas por um Presidente da República que, com outras figuras civis e militares, forma uma organização criminosa estruturada para impedir que o resultado da vontade popular expressa nas eleições de 2022 se cumpra, implicando sua continuidade no poder sem o aval do sufrágio universal.”

O ex-militar foi derrotado nas eleições de novembro de 2022 por Lula no resultado eleitoral mais apertado da história do Brasil, menos de dois pontos. Meses antes da votação, ele lançou uma campanha para semear dúvidas sobre a segurança das urnas e abrir caminho para futuras reivindicações, seguindo o roteiro de seu principal ídolo, o presidente Donald Trump.

Horas antes de a denúncia ser protocolada, Bolsonaro foi ao Senado, onde disse à imprensa: “Estou esperando [a denúncia] chegar. Espero ter acesso aos carros agora. Por acaso você viu a ata do golpe? Você não viu, nem eu." Bolsonaro, que sempre negou as acusações e afirma ser vítima de uma caça às bruxas, perdeu a imunidade parlamentar ao deixar a presidência por não exercer nenhum cargo eletivo.

Por meio de seus advogados, Bolsonaro declarou: “O presidente nunca apoiou nenhum movimento que buscasse desconstruir o Estado democrático de direito ou as instituições que o sustentam”. Na nota, os advogados descrevem a denúncia como inepta, fantasiosa e incoerente. O senador Flávio Bolsonaro também criticou a denúncia nas redes sociais. Ele sustenta que não há provas contra o pai e que o procurador-geral da República se curvou aos interesses do juiz Alexandre de Moraes, o homem mais odiado pelo bolsonarismo, e de Lula.

O atual presidente, que passou mais de um ano na prisão por um caso de corrupção que depois foi arquivado, prometeu repetidamente que os responsáveis ​​pela tentativa de golpe seriam punidos, mas ao mesmo tempo defendeu o direito dos acusados ​​a um julgamento justo. A líder do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, comemorou a acusação contra o político de extrema direita. “Que eles nunca mais tentem cometer fraudes em eleições, depor governos legítimos e organizar assassinatos.” A polícia diz que os conspiradores cogitaram matar Lula.

O ex-presidente continua líder da direita brasileira, apesar de estar proibido de concorrer a cargos eletivos até 2030. Essa proibição está relacionada a um caso separado de golpe, no qual ele foi condenado por abuso de poder por se aproveitar de seu cargo para questionar, meses antes da eleição presidencial, a segurança das urnas eletrônicas em frente ao corpo diplomático credenciado em Brasília.

Bolsonaro se recusou a reconhecer a vitória do esquerdista Lula e seus apoiadores acamparam do lado de fora de quartéis por todo o país exigindo intervenção militar. Bolsonaro incentivou publicamente esse protesto contra supostas fraudes e eles estiveram lá durante os dois meses de transição.

O protesto em Brasília continuou com centenas de bolsonaristas acampados mesmo após a posse de Lula em 1º de janeiro de 2023. Uma semana depois, enquanto Bolsonaro estava no Estado,

Unidos, milhares de seus seguidores tomaram violentamente o coração da democracia brasileira. Eles invadiram os gabinetes presidenciais, a Suprema Corte e o Congresso.

O principal depoimento para incriminar Bolsonaro foi o de seu secretário pessoal, o militar Mauro Cid. Ele atuou em diversas ocasiões como elo de ligação com outros militares, generais da reserva, generais da ativa, membros das tropas de elite..., com quem Bolsonaro supostamente planejou o golpe.

Segundo a investigação, duas reuniões se destacam entre os preparativos para o golpe. Primeiro, Bolsonaro se encontrou com vários de seus ministros e os encorajou a agitar o ambiente espalhando mentiras sobre a segurança das urnas eletrônicas que o Brasil usa há mais de um quarto de século.

A segunda foi realizada depois das eleições, quando Lula já era presidente eleito. O presidente cessante chamou os altos escalões das Forças Armadas ao palácio presidencial. Ele propôs que aprovassem um decreto concedendo poderes excepcionais aos militares para impedir que Lula tomasse posse. Os chefes do Exército e da Força Aérea se recusaram a endossar o golpe, enquanto seus colegas da Marinha apoiaram a proposta e ofereceram seus marinheiros. A polícia afirma que apenas a recusa dos dois generais impediu que o golpe acontecesse.

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