Grécia aprova jornada de 13 horas por dia e reacende debate sobre exploração moderna no trabalho
Parlamento grego aprova lei que permite jornada de trabalho de até 13 horas diárias com o mesmo empregador. Governo diz que medida é voluntária e aumenta a renda, mas sindicatos denunciam risco de abuso e precarização. Trabalhadores temem represálias se recusarem novo modelo.
Trabalhar 13 horas por dia agora é legal na Grécia — e muitos veem isso como um “retorno à Idade Média”
Uma nova lei aprovada pelo Parlamento da Grécia na quinta-feira (16) autorizou a ampliação da jornada de trabalho para até 13 horas diárias com o mesmo empregador, uma mudança que provocou indignação entre trabalhadores, sindicatos e especialistas em direitos laborais.
O governo grego afirma que a medida é opcional e voluntária, destinada a “aumentar a renda dos trabalhadores” em um cenário econômico ainda abalado por anos de crise e austeridade. A ministra do Trabalho, Niki Kerameus, declarou que muitos funcionários já procuravam outras atividades após o expediente para complementar a renda. "Agora, eles poderão fazer isso dentro do mesmo emprego, com garantias legais e aumento proporcional no salário", justificou.
Mas para os trabalhadores, a realidade é outra. Muitos denunciam que, apesar da proposta ser apresentada como voluntária, a pressão para aceitar a nova jornada pode ser imensa, especialmente para os empregados em situação precária. “Quem vai se sentir livre para dizer ‘não’ ao patrão quando a alternativa pode ser o desemprego?”, questiona um representante sindical de Atenas.
“Legalizar o excesso” ou “modernizar o trabalho”?
O empresário Spyros Bairaktaris, dono de uma popular taverna que emprega 250 pessoas, apoiou a nova lei. Segundo ele, muitos de seus funcionários já buscavam horas extras em outros estabelecimentos para conseguir pagar as contas. “Agora, eles podem ganhar mais sem precisar sair do restaurante”, afirmou.
No entanto, críticos argumentam que a legislação está longe de ser uma conquista: ela pode representar um retrocesso nos direitos trabalhistas, num país que ainda se recupera das duras reformas exigidas por organismos internacionais durante os pacotes de resgate financeiro da última década.
Organizações trabalhistas e movimentos sociais já classificaram a nova política como um “modelo de exploração legalizada” e prometeram protestos nas principais cidades do país.
O que muda na prática
A nova lei permite que, além da jornada tradicional de 8 horas, o trabalhador aceite um turno adicional de até 5 horas com o mesmo empregador — totalizando 13 horas por dia. A proposta inclui pagamento proporcional e registro formal, mas críticos alertam para a falta de mecanismos de proteção para quem se recusar a aderir ao novo regime.
Na prática, especialistas apontam que a linha entre “voluntário” e “obrigatório” pode desaparecer rapidamente, especialmente em setores como hotelaria, turismo, gastronomia e comércio — pilares da economia grega.
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